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segunda-feira, 28 de outubro de 2013

É tempo de Jabuticaba: ploquet pluft nhoque!

Olha a preta
colada no tronco
de caroço branco
que a mão do moleque
Olha a preta
de caroço branco
que a mão do moleque
arranca no toque
O que bate na boca
que a jabuticaba
faz ploquet pluft nhoque
Olha o bando
que acode com saco
pedaço de taco
que bate no galho
Olha o bando
que acode com o baque
que bate no galho
que faz plique ploque
Aí depois todo mundo sentado
com o saco do lado
na sombra do pé
Nesse pega, que come, que engole
é que a fruta faz
ploquet pluft nhoque
                               (Dory Caymmi e Paulo Cesar Pinheiro)
A jabuticaba por aqui é rainha! 
Do pequeno ao grande, todos enchem os olhos quando encontram uma jabuticabeira cheia, o que não é muito difícil porque há árvores em muitos quintais ainda. Lá na cidade histórica de Sabará/MG acontece a festa da jabuticaba e os gostosos produtos produzidos surpreendem os visitantes pela variedade e sabor. 




ao fundo: Jac no ploquet pluft nhoque!

A jabuticabeira é da família das Myrtaceae, a mesma família do jambo, pitanga, goiaba, araçá e do eucalipto e é nativa da Mata Atlântica. Tem várias espécies e acho que a que temos para os lados de cá é a Myrciaria cauliflora. Demora alguns anos para frutificar, mas também quando resolve a gente nem consegue comer tudo.

A casca da pretinha tem alto teor de pectina que é aquele ácido que promove facilmente a geleificação e que pode ser encontrado também na maçã ou em alguns frutos cítricos como na parte branca da laranja. Para se fazer uma boa geleia é preciso que a fruta tenha bastante pectina, senão é necessário acrescentar. Existe a pectina industrial, mas essa não recomendo, já que conseguimos facilmente na maçã. 

A casca da jabu tem antocianina que são pigmentos responsáveis pelas cores das frutas, flores e folhas de algumas plantas e que vão do vermelho ao azul (vermelho-alaranjado, vermelho vivo, roxo, rubi-violácea…) e serve para proteger a planta da luz ultravioleta e atrair os passarinhos, que não são bobos nada e entendem muito de alimentação saudável!! A antocianina é um poderoso antioxidante que provoca efeitos muito positivos no organismo. E por isso recomenda-se comer também umas casquinhas de jabuticaba.

O pé de jabuticaba sempre cria expectativas: primeiro a floração cheirosíssima que a gente sente a quilômetros de distância. Depois as frutinhas verdes que pipocam agarradas ao tronco que em seguida ficam pretas. Aí vem a chuva que afina a casca da fruta. E então, em um dia combinado, vai todo mundo subir no pé e comer jabuticaba. A jabuticaba é motivo para o encontro.

Pois bem: colhida a fruta, parti para a produção de geleia e vinagre.Posto agora a receita da geleia e se o vinagre der certo, coloco a receita depois.

Geleia de jabuticaba
2 quilos de jabuticabas maduras e inteiras
1,5 litro de água
500 g de açúcar (usei açúcar cristal. Sempre penso em 1/3 do açúcar para quantidade do líquido). Mas para quem gosta um pouco mais doce, coloque 600 g de açúcar.

Lave as frutas. Esprema os caroços com a mão. Faça isso antes de começar porque o processo de espremer a casca durante a fervura deixa o líquido mais ácido. Coloque a água e deixe ferver. Logo que ferver, coe. Eu usei um coador com furos maiores, que deixou passar pedaços da fruta. Mas se não quiser é só coar em uma peneira fina.

Volte com o líquido coado para a panela e acrescente o açúcar. Ao ferver, vá retirando a espuma que fica por cima. Não mexa muito para não açucarar. Deixe ferver por aproximadamente 1 hora ou até dar o ponto de geleia que pode ser verificado colocando um pouco de água em uma vasilha e colocando uma colher de chá de geleia. Se ao colocar na água ela não se espalhar totalmente está no ponto. Fiz a geleia mais mole e outra mais dura (1h20 de fogo) para testar os pontos. 

cozimento

ficou foi boa!

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Nosso Rico e Destruído cerrado mineiro



Fui convidada por um grupo de arqueólogas para participar de um projeto no Noroeste de Minas. Depois de nove horas de viagem chegamos por lá. A cidade que existe desde 1840 tem um lindo centro histórico com igrejas e algumas casas restauradas. Na região predomina o Cerrado, vegetação típica que, infelizmente, vem sendo destruída desde a época da mineração do ouro até hoje, com as infindáveis plantações de monocultura de eucalipto.

O Cerrado que ocupa mais de 24% do território nacional resiste bravamente e consegue dispersar suas sementes em meio ao eucaliptal. Ali pouca coisa nasce, mas o pequi com suas flores atraem os veados que as saboreiam fazendo cara de estar comendo a melhor coisa do mundo. Os vi mais de uma vez comendo no meio dos eucaliptos.

flor de pequi
Embora seja desolador o que está acontecendo em Minas Gerais, seja pela exploração secular de minério ou pela plantação de monoculturas que destroem totalmente a biodiversidade (lembrando que o cerrado brasileiro abriga cerca de 330 mil espécies de plantas e animais), ainda é possível ver neste bioma o tamanduá bandeira, pássaros coloridos, cobras de várias espécies, coelhos, tatus, insetos enormes e estranhos, além de muitas frutas e flores.

jenipapo

baru 

 cagaiteira com a plantação de eucalipto ao fundo
caixa de abelha

as veredas de Guimarães

buritizeiro
Além de estarmos destruindo toda riqueza que encontramos no cerrado mineiro sem nem ao menos conhecê-la completamente, colocamos em risco as nascentes que abastecem as principais bacias hidrográficas do país e também todas as comunidades que sobrevivem deste bioma. 

essa nasceu no meio da terra dura com cascalho!
demonstração da força da natureza

Sou a favor de um controle rigoroso por parte do Estado e das populações no cumprimento da legislação e também no aumento do número de áreas protegidas.

Quer saber mais sobre o cerrado? veja aqui no blog os sites Cerratinga e Central do Cerrado.

terça-feira, 15 de outubro de 2013

Vinagreira é hibisco

Quem vem lá, quem vem lá? Nasceram as sementinhas de Vinagreira (Hibiscus sabdariffa L.)

Demorou mas finalmente consegui as sementes de hibisco com Dona Júlia que tem aquela linda horta do grupo Frutos da União que fica no Ribeiro de Abreu (já falei aqui). Pedi para um, para outro, mas nunca chegada. Aí Dona Júlia me deu, plantei e nasceu muitas mudinhas de hibisco. 

Ah, que lindo! Ela já nasce com caule e folhas roxos.


A planta tem origem lá pelos lados da Índia, Sudão e Malásia e depois foi trazida para cá. É conhecida aqui por diversos nomes como azedinha, azeda-da-guiné, caruru-azedo, caruru-da-guiné, chá-da-jamaica, pampolha, pampulha, papoula, papoula-de-duas-cores, quiabeiro-azedo, quiabo-azedo, quiabo-de-angola, quiabo-róseo, quiabo-roxo, rosélia e vinagreira. No México é conhecida como Flor da Jamaica, na França como Roselle e no Japão como Umê.

Bastante utilizada na culinária para fabricação de doces, geleias, conservas, sorvetes, bolos, gelatinas, vinagretes, chás e sucos e as folhas para salada. Tradicionalmente é usada como diurética, para tratamento de desordem gastrointestinal, infecções hepáticas, febre e hipertensão e muitos estudos científicos apontam a ação antioxidante da planta. É um arbusto que atinge cerca de 2 a 3m de altura e podem ser usadas folhas, cálices, sementes e as fibras para fazer papel. A flor da vinagreira é amarela-arroxeada. Uma belezura!

Lá no Maranhão a turma faz o arroz de Cuxá, um prato com camarão seco, folhas de vinagreira, gergelim e farinha de mandioca e é bom pra valer! As folhas são azedas, o que confirma um de seus nomes.

Como minhas mudinhas ainda estão crescendo, comprei os cálices desidratados da vinagreira no Mercado Central de BH para fazer experimentos que começaram com a produção da geléia com pedaços.


regalo que dei para Ana Maria de aniversário
e os cálices que comprei no mercado
Geléia de Vinagreira

40g de cálice de vinagreira desidratado
4 copos de água
1 copo de açúcar cristal (180 gr). Usei o açúcar demerara orgânico porque era o que tinha, mas fica igual com o cristal.

Ferva a vinagreira com a água. Assim que soltar bastante cor, coe.
Acrescente o açucar e coloque o líquido em fogo baixo até virar um doce (mais ou menos 15 minutos). Não demore muito senão fica consistente demais. O ponto é quando ainda está líquido, mas não está escorrendo como água. 

Eu utilizei um pouco dos cálices junto com açucar e ficou boa boa boa!!! 

O chá é de uma cor e sabor surpreendentes: rosa escuro e bem azedinho.

chá de hibisco rosado com
biscoitos de côco da Ceci (da Adoro Biscoitos!) com ingredientes naturais.
Nada de conservantes, aromatizantes.
Tem sabor único!
O paninho é lá do mercado de Fortaleza. Proooonnnnnnto!

Vou fazer outras receitas e posto aqui. 

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Pipoca de Milho Crioulo Roxo do Cafezal

Fui a feira de orgânicos da Vila Cafezal em Belo Horizonte/MG e além de comprar verduras e legumes da horta da Associação de Moradores, comprei milho roxo de pipoca. São sementes crioulas chamadas também de tradicionais, selecionadas e mantidas pelos próprios agricultores há várias gerações e que têm uma grande variabilidade genética. Cultivada pelos produtores da agricultura familiar, essas sementes garantem a conservação da biodiversidade porque resgatam variedades em extinção e proporcionam independência ao agricultor em relação às empresas transnacionais produtoras de sementes híbridas. Além disso, comer qualquer coisa sabendo que não é transgênica já é muito bom. Neste caso, além de não ser geneticamente modificada, o milho roxo de pipoca foi cultivado sem agrotóxico.  



Nos países da América Latina como Peru e Bolívia há dezenas de tipos de milho, de todas as cores e tamanhos e que variam também no sabor. Quero saber mesmo é onde estão nossas sementes crioulas de milho? No Brasil há também outras espécies que quase não encontramos mais porque foram extintas e inviabilizadas pela imposição do agronegócio e pela legislação na venda de sementes transgênicas.

Quem me vendeu lá na horta da Vila Cafezal foi Sr. Dorval. A horta é muito bonita e tem a melhor vista da cidade de Belo Horizonte.Quem quiser informação de como adquirir a semente crioula de pipoca de milho  roxo pode entrar em contato com o grupo Aroeira no aroeiraufmg@gmail.com. A produção é pequena e tem venda local e por isso nem sempre tem para vender.

Estou testando a germinação das sementes porque fiquei encantada com a espiga de milho roxo. É linda!

E se você só come pipoca de microondas que vem no saquinho vai adorar essa aqui porque, apesar da pipoca ficar pequena, ela é branquinha e crocante, além de não deixar piruá.

A receita é assim: uma xícara de milho e uma colher de sopa de óleo. Se quiser substitua o óleo pela manteiga. Coloque na pipoqueira ou em alguma panela com tampa e deixe pipocar. Aqui a gente canta a musiquinha “pula pipoca maria pororoca” até parar de pular. A meninada adora, canta junto e depois come com a maior alegria. Quando era criança fazíamos coroas e colares enfiando em uma linha as pipoquinhas. Gostava também de enfeitar as roupas de festa junina com elas. Era uma festa!

Se quiser fazer a pipoca no microondas coloque o milho em uma vasilha com manteiga (não use se quiser mais leve) e tampe. Coloque 2 minutos e depois minuto a minuto até parar de pipocar.
  
Quem quiser ir a horta da Associação de Moradores da Vila Cafezal funciona de segunda a sexta de 6h30 às 9h e de 13h às 17h, na própria Associação ou entre em contato com o Grupo Aroeira. 

Tudo sem agrotóxico !!!






quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Os queijos artesanais de leite cru do Vale do Jequitinhonha/MG

Ontem fui à Degustação de Queijos Artesanais de leite cru do Vale do Jequitinhonha/MG, organizada pelo Convivium Slow Food BH. Muitos tipos de queijos com sabores, formatos, cores e aromas diferentes. Gente bonita e interessada em colaborar para salvaguarda da cultura, dos modos de vida e dos saberes envolvidos na produção de queijos artesanais.

O grupo segue as diretrizes do manifesto do Slow Food Internacional em Defesa dos Queijos de Leite Cru, que tem como objetivo realizar ações de mapeamento, divulgação e salvaguarda dos queijos tradicionais de leite cru brasileiros. (veja mais aqui).

A questão dos queijos produzidos a partir do leite cru (não pasteurizado) é que há uma legislação sanitária  que não permite que eles sejam comercializados fora do Estado produtor, o que limita o crescimento da produção local, a oferta no mercado e a diversidade de produtos oferecidos.

Por isso é tão importante e necessário esse movimento para pressionar uma adequação da legislação que deve criar formas de atender o pequeno produtor, além de oferecer suporte a eles que, embora façam produtos saborosos e tradicionais, precisam ter condição de se adequar, minimamente, às boas práticas de manipulação. Há muito o que se pensar e considerar quando falamos de pequenos produtores no Brasil. Todos sabemos que o agronegócio, as grandes indústrias, as mineradoras, além da inexistência de uma política de desenvolvimento local, ameaçam a relação das comunidades rurais com a terra, com suas tradições e cultura, comprometendo a melhoria de sua qualidade de vida.

Fui convidada pela Bibi que faz doutorado sobre queijos para participar da expedição que mapeou a produção artesanal no Vale do Jequitinhonha, mas infelizmente não pude ir. A expedição viajou 2500 km conversando, provando e fotografando tudo. Trouxeram na mala muitos queijos e muitas lembranças carinhosas dos produtores daquele lugar.

Marcelo Podestà, um dos organizadores do Convivium de BH, falou sobre a proposta do Slow Food, da expedição realizada em Minas e ainda fez uma introdução à degustação dos queijos, com direito a ficha de degustação e dicas de como perceber melhor cada queijo degustado.

E foi assim, entre queijos brancos, marrons, cozidos, acompanhados de mel, melado, farinha de mandioca, derretido, com pães deliciosos (feitos pelos italianos presentes), cachaça, cerveja e com muita conversa e curiosidade que o encontro se deu.  

Se quiser saber mais, entre no site do Slow Food BH aqui no blog.

Bibi apreciando os queijim mineirm




queijo cabacinha
melado, mel, rapadura cachada, doce de amendoim


broinhas e suco de tamarindo. humm muito bom!


Marcelo e Bibi 




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