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terça-feira, 27 de agosto de 2013

Passeio pelo bairro e as árvores frutíferas

Caminhando pelo bairro em direção à casa de Dona Maria e Seu Zeca de Ciço para  uma prosa de domingo fui descobrindo quantas árvores frutíferas temos plantadas nas ruas. Algumas parecem nascer por conta própria. Outras estão muito bem adaptadas, parecendo que foram plantadas mesmo. Talvez por um apreciador inconformado com a impermeabilização da cidade ou quem sabe para lembrar o tempo em que BH era considerada uma “cidade jardim”.

pé de amora
amorinhas ainda verdes
A primavera está proxima e por isso as árvores estão bastante floridas e algumas já têm frutos pequenos. Dá para sentir cheiro da floração por todos os lados e o mais forte deles é o de flor de jabuticaba.

Os passarinhos já perceberam, há tempos, a chegada da primavera, principalmente os bem-te-vis que estão enormes e cantando freneticamente. O mais engraçado é a cara de “nem-te-ligo” que eles têm para nós. Nem os carros os assustam. Os sabiás também estão por aí enormes, marronzinhos e alvoroçados. 


mangueira com fruto e flor
manga, muita manda
Mas aproveitei o passeio tranquilo e fotografei o que encontrei no caminho. Além dessas árvores, já vi por aqui plantados na rua, pé de abacate, jabuticaba, jaca, ameixa e pitanga.


romã no ponto de taxi
muitas abelhudas nas flores de romã

A primavera chega no dia 22 de setembro e trará como sempre um tempo de fartura.

Que venha a primavera!!!!






sábado, 24 de agosto de 2013

Eu Apoio a Agricultura Familiar

O Brasil é líder mundial no consumo de agrotóxicos. Muitas vezes não nos damos conta o que significa isso. Todos sabemos que o consumo constante desse veneno pode causar inúmeros problemas neurológicos, reprodutivos, de desregulação hormonal, câncer e muitos outros.   


As pessoas sempre me dizem que gostariam de ter uma alimentação melhor, que comeriam produtos menos industrializados e mais saudáveis, que comprariam produtos sem agrotóxicos se estivessem no supermercado ou próximo de casa, mesmo sendo mais caros. Mas… aí começam a dar um monte de justificativas que, embora não sejam totalmente irreais, tem mais relação com a dificuldade de mudar o comportamento do que  com a oferta no mercado. 

Pois bem, recebo semanalmente um lista de produtos da horta Vista Alegre (aqui) que realmente me alegra! Apesar de não trabalharem com hortaliças tradicionais como o gondó, a beldroega, o cansanção, o ora-pro-nobis (veja aqui as listas de algumas), a fazenda produz inúmeros produtos e todos sem agrotóxico. É só fazer o pedido conforme as orientações e a cesta chega na sua casa. Isso não é bom? Tenho certeza que para muita gente isso é ótimo. Recebo também por email da Rede Terra Viva (aqui) informando quando haverá feiras. Tudo orgânico e agroecológico.  E essas são apenas duas possibilidades de compra, mas há muitas outras. 

Já é bastante forte este movimento que atua pela segurança alimentar e se revela como um novo caminho diante das configurações estabelecidas pelos grandes grupos que dominam o agronegócio no Brasil. Na carta assinada por entidades que discutem questões sobre a agricultura e alimentação e que foi entregue ao Governo brasileiro, destaco um parágrafo sobre o agronegócio no Brasil: (leia na íntegra aqui).

Nove grupos empresariais dominam e agem como cartéis nos alimentos; controlam as sementes, a indústria de venenos; impõem o uso de agrotóxicos em toda agricultura; desmatam grandes extensões de florestas e manguezais; invadem e perseguem populações indígenas, pescadores e quilombolas e trabalhadores do campo; impõem trabalho escravo; criminalizam e perseguem as organizações; e aumentam os preços dos alimentos para as populações das cidades. Este é o modelo de agricultura chamado de agronegócio, que não paga imposto para exportar, recebe grandes volumes de dinheiro público e tem sido privilegiado nas políticas de Estado e de governos.”

Procure conhecer, converse, se informe sobre as feiras agroecológicas perto de casa. E tenha a certeza que você estará atuando politicamente, fortalecendo a agricultura familiar, melhorando a vida de inúmeros agricultores e agricultoras, promovendo a sua saúde e de sua família, preservando o meio ambiente e comendo alimentos mais saborosos e completamente saudáveis.

Aqui no blog você encontra algumas possibilidades de compra desses alimentos saudáveis.

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

III Encontro da Articulação Metropolitana de Agricultura Urbana de 2013

CONVITE

Participe do III Encontro da Articulação Metropolitana de Agricultura Urbana de 2013!

Data: 24/08/2013
Local: Assentamento Ho Chi Minh, Nova União
Saída: 7:00h 
Retorno: 17:00h
Transporte: Iremos disponibilizar um ônibus que sairá às 07:00h da Rua Januária, 68, Floresta (em frente à Funarte, próximo à Praça da Estação) com destino ao Assentamento Ho Chi Minh. Pedimos a todos/as que confirmem presença. Para quem for de ônibus é necessário enviar nome completo e RG. 

Tragam lanches para compartilharmos, mudas e sementes para a Feira de Trocas!

Pedimos a todas/os que confirmem presença.

PROGRAMAÇÃO

07:00 – Saída da Rua Januária, 68, Floresta (em frente à Funarte, próximo à Praça da Estação)
09:00 – Chegada no Assentamento Ho Chi Minh e lanche
09:30  – Apresentação da programação do dia e apresentação dos participantes
10:00 – Apresentação da caracterização da agricultura urbana e mapeamento das experiências no site da AMAU (www.amau.org.br)
10:30 – Trabalho em grupo: Caracterização das experiências da AMAU
12:30 – Almoço
13:30 – Feira de Trocas
14:30 – Visita ao Assentamento Ho Chi Minh
16:00 – Encaminhamentos das comissões, informes e agenda AMAU
16:45 – Lanche
17:00 – Encerramento e retorno à Belo Horizonte

Tamarindo: indiano, africano, mas também brasileiro

Ácido, azedo, doce e estranho.
Assim é o fruto do tamarindeiro (Tamarindus indica L.).Pertencente a família Leguminosae, o Tamarindo é um frutinho alongado, de 5 a 15cm de comprimento, com casca quebradiça e parda. Li que é uma espécie nativa da África tropical, mas por se adaptar tão bem ao nosso nordeste pode ser considerada típica da região. Essa árvore tão bonita trazida pelos portugueses adaptou-se bem ao cerrado brasileiro por ser uma região quente e de longos períodos de seca. É um fruto muito utilizado na culinária africana (comi pratos feitos com ele no Quênia), Índia e aqui no Brasil.

Paulinho que tinha um pé de tamarindo na porta de casa na fazenda em que nasceu, região da Serra do Cipó/MG, ao ver a semente logo quebrou a casca e mandou para boca. Fiquei olhando para ver a careta e… ela veio! O tamarindo é  extremamente ácido e contém ácido tartárico, cítrico, málico e acético que, se muito consumido, são capazes de destruir o esmalte do dente. Mas Paulinho, nem te ligo! Gosto que lembra infância…

Ele contou que sua mãe descascava o tamarindo e deixava a semente na água de um dia para outro, adoçava e servia suco de tamarindo para a filharada (que naquela época eram 10 crianças!).

Fico sempre pensando que todo mundo, principalmente as crianças, deveriam provar ( ou ter a chance de provar) certos alimentos. Acho que o tamarindo é um deles. Mas infelizmente conheço poucas mães e pais que têm “coragem gastronômica”. Aquela coragem de conhecer coisas novas e sair da monotonia alimentar.  E assim os filhos, mesmo os mais pequeninos, já vão se tornando crianças pouco abertas às experiências gustativas. 

Minha amiga arqueóloga trouxe as frutinhas de lá do Norte de Minas. Fiz um caldo de tamarindo para usar no arroz, fervendo as sementes com água. Aproximadamente um litro de água para cada 7 sementes. Retirei a casca externa e fervi 15 minutos as sementes e a polpa ficou macia. Coei o caldo e o coloquei no arroz, na etapa final do cozimento. Ficou perfumado e muito bom, mas o arroz ficou um pouco amarronzado. Não gostei muito da cor e por isso na próxima vez vou colocar a cúrcuma para ficar com um tom mais amarelado ou talvez o urucum que deixará o prato com “um desvio para o vermelho”.




frutas do tamarindo, caldo e pasta antes de temperar
Fiz também um molho tailandês de tamarindo conhecido como Sambal. Existem inúmeras variações desse molho e muitos países o utilizam para dar cor e sabor específico ao prato. Há no mercado molhos prontos, mas eles não são tão bons quanto os que fazemos em casa. Uma coisa é certa: todos molhos prontos que provei levam, além do tamarindo, pimenta de diversos tipos e têm um sabor agridoce acentuado.

Fiz então um molho de tamarindo picante e levemente agridoce para comer com bolinho de feijão:

Para o molho:
1 1/2 pimenta dedo-de-moça vermelha com sementes (se gostar  menos picante, retire um pouco das sementes)
2 colher (sopa) de polpa de tamarindo
1 cebola média
1 dente de alho
1/2 colher (sopa) de açucar
3 xícara de água (utilizei a água do cozimento do tamarindo)
1 fio de óleo
Pitada de sal

No liquidificador bati a pimenta, a cebola, o dente de alho e um pouco da água até triturar bem. Aqueci a frigideira com o óleo e coloquei a mistura do liquidificador. Refoguei um pouco e acrescentei o restante da água, o tamarindo, o açúcar e uma pitada de sal. Deixei cozinhar até ficar um molho mais consistente. Rendeu 1 ½ xícara.

Servi de entrada no jantar esse molho com bolinhos de feijão fradinho e folhas novas de mostarda do quintal. 



Delírio dos convidados baiano, gaúcho e mineiros que adoraram e comeram rindo e suando!!!




quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Pimenta Chapéu de Frade não arde

Ganhei um saco de pimenta Chapéu de Frade de Dona Jacinta de Teófilo Otoni/MG. Ela me contou que tem uma linda horta por aquelas bandas e que nasce “de um, tudo!”. Dona Jacinta é assim: fala pouco, sorri muito, não gosta de fotos, organiza um grupo de mulheres em sua cidade para plantar e comer com mais qualidade (sem agrotóxico) e fica 5 horas por dia plantando em uma posição que eu com menos da metade de sua idade não conseguiria jamais. Um dia passo por Teófilo Otoni para conhecer a horta e curtir Dona Jacinta. 

Mas as pimentinhas formosas chegaram na hora certa para serem degustadas por amigos baianos, gaúchos e mineiros.Conhecida também como pimenta Cambuci (Capsicum baccatum Var. pendulum), ela não tem ardência e é adocicada. Parece mesmo com um pimentão. Talvez porque ambos pertençam à família Solanaceae e ao gênero Capsicum.


Em Tupi Guarani, Cambuci  quer dizer jarro, o que faz todo sentido porque ela tem mesmo este formato. Existe uma fruta também chamada cambuci que irei falar depois. O Brasil possui muitos tipos de pimenta e que vale a pena conhecer. Já tentei plantar uma mudinha de dedo-de-moça aqui no quintal do prédio, mas as folhas ficaram amarelas e a planta morreu antes mesmo de dar qualquer sinal de flor. 

Agora vou fazer uma sementeira com essas aqui  

pimentas malagueta, cambuci e dedo de moça para plantar
Por ter esse formato a pimenta chapéu de frade ou cambuci pode ser recheada com carnes, bacalhau e outros peixes, queijos, tomates ou com o que achar melhor. Apenas é preciso abrir uma pequena tampa do lado do cabinho e retirar as sementes. Dá para comer como os pimentões ficando muito saborosas assadas com azeite, cozidas com legumes, no arroz, com carnes ou apenas cortadas para comer em saladas. Tudo vai bem com elas.

Resolvi fazer a pimenta recheada acompanhada de azeitonas pretas temperadas para comer com pão.

pimenta cambuci recheada: entrada deliciosa!!!
Para a azeitona temperada:
300 g de azeitona califórnia sem a água (ou a azeitona que quiser)
2 folhas de louro
Grãos de cominho
Grãos de coentro
Cascas de limão siciliano (sem a parte branca)
Azeite
Pimenta preta e branca em grãos
Pimenta rosa

Use um vidro limpo, esterilizado e com tampa. Coloque um pouco das azeitonas, um pouco dos grãos e das pimentas, uma casquinha de limão siciliano e azeite até cobrir. Vá fazendo as camadas com estes ingredientes e coloque a folha de louro em pé, encostada no vidro, para ficar bonito. Cubra tudo com azeite. Tampe e deixe na geladeira por alguns dias. Coma na salada e com pão.

Para o recheio de 15 pimentas usei:
4 tomates picados bem pequeno
1 cebola média
2 dentes de alho picados
½ pimenta dedo-de-moça picada pequeno e sem sementes (se não gostar desse tipo de ardência, coloque pimenta do reino triturada)
50 g de bacon
Folhas de manjericão, louro, tomilho e sálvia.
1 colher de sopa de óleo
½ cálice de cachaça
Sal

Aqueça o óleo e coloque o bacon. Deixe fritar. Retire o excesso de gordura. Acrescente a cebola e deixe dourar. Acrescente o alho e deixe dourar. Derrame o cálice de cachaça na panela e mexa até evaporar. Coloque o tomate, a pimenta, as folhas de manjericão (deixe algumas folhinhas para enfeitar o prato), louro, sálvia e tomilho e deixe cozinhar até desmanchar um pouco. Acrescente uma pitada de sal. Faça um molho gostoso!

Com uma faca faça uma pequena tampa na pimenta cambuci do lado do pedúnculo, retire as sementes e recheie. Coloque um fio de azeite (das azeitonas temperadas) nas pimentas recheadas e as azeitonas temperadas ao lado para irem ao forno. Asse por 30 minutos. Coloque as folhinhas de manjericão e sirva quente acompanhada de pão.

Prato sem erro, fácil e saboroso! 



domingo, 11 de agosto de 2013

Pimentas coloridas e muito mais do Mercado Central de BH

Fui ao Mercado Central de Belo Horizonte/MG para comprar pimentas. A ideia era fazer um prato colorido, saboroso e sem ardência.


Realmente ir ao mercado é um passeio muito divertido! Vemos de tudo um pouco. Dessa vez minha procura era pelas pimentas, mas aproveitei e fiz algumas pesquisas de ingredientes. O mercado central foi criado em 1929. Sr. Noel Charnizon, dono das lojas  Rei dos Brinquedos, me contou que seu pai nesta época, ao chegar a BH vindo da Romênia, vendia também neste mercado. O local era a céu aberto e cercado por portões que se abriam toda manhã às 5h. Ao abrirem os portões, todos os comerciantes corriam e escolhiam a banca que iriam trabalhar naquele dia. Era preciso ser esperto se quisesse pegar a banca com melhor localização. Naquela época BH tinha 47.000 habitantes e o abastecimento da cidade ainda comportava este tipo de informalidade. Mas rapidamente a cidade cresceu e se transformou. Hoje o Mercado Central é ponto turístico e não é à toa: podemos encontrar muitos tipos de frutas, hortaliças (menos as não convencionais!), carnes, peixes, temperos, grãos, doces, farinhas, cachaças e uma infinidade de ingredientes. Sem falar dos botecos em que o cliente fica em pé tomando cerveja, comendo petiscos como o fígado acebolado com jiló. 

 Olha o que encontrei:
araruta, açafrão, gengibre e macadâmia

frutas, legumes e farinhas
queijos variados, frescos, curados e super curados

cruá, graviola e batata yacon
noni

doces variados
As pimentas que comprei por lá não tinham o paladar pungente, mais para adocicadas e eram, portanto, com pouquíssima ardência. Fiz um molho de pimentas coloridas cortadas ao meio - biquinho vermelha sem ardência, biquinho amarela com um pouquinho de ardência e pimenta verde de cheiro - alho poró, folhas de coentro refogados no azeite e casca de limão siciliano ralada e coloquei sobre batatas grandes cozidas cortadas ao meio. Para falar a verdade senti falta de um pouquinho mais de ardência...

ingredientes que usei para colocar na batata
pimentas!
essa banca é de pimentas em conserva e molhos

esse é o vidro pescoçudo de pimenta.
Tão grande que não deu nem para fotografar inteiro

Ficou realmente muito bom e bonito e a turma comeu sem medo. Esqueci de fotografar, mas prometo ficar mais atenta na próxima.

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Jurubeba: amarga mas é boa!

Passeando por Brumadinho e a caminho de Inhotim (Museu de arte contemporânea) encontramos a frutinha mais amarga que já provei na vida:  a Jurubeba! Deixa qualquer jiló para trás.

Em minha casa jurubeba sempre foi remédio. Meu pai bebia a Jurubeba Leão do Norte, bebida alcóolica muito vendida nos botecos por aqui, quando tinha algum problema de fígado. Mas vira-e-mexe ela aparecia e era cozida no arroz. A meninada não comia e se provava fazia careta. Apenas descobri o prazer do sabor amargo depois que fiquei adulta. Hoje como e gosto muito.


jurubeba com flor

eu e a juju
A frutinha com nome científico Paniculatum L., da família Solanaceae é conhecida também por jurubeba verdadeira, jupeba, juribeba, urupeba, gerobeba, joá manso, juribebe, jurupeba altera, jurubebinha. Na Farmacopéia brasileira é tida como produto para anemia, desordens de fígado e digestivas.

o pé de jurubeba
Deve ser boa mesmo, porque a danada amarga amarga amarga, mas é gostosa para quem gosta desse paladar. Peguei algumas poucas frutinhas e cozinhei no arroz, mas vou voltar para buscar mais porque quero fazer conserva. A árvore está cheia e ninguém nem liga. Um detalhe importante que aprendi quando fui pegar: as folhas e os galhos têm espinhos. É preciso cuidado.

folha com espinho. Ai, doeu!

Fiz assim: antes de colocar no arroz, higienizei as frutinhas lavando bem. Coloquei 1 copo de jurubeba e cobri com água fria. Deixei ferver, retirei a água. Fervi um pouco de água em outra panela e fui trocando a água da juju, fora do fogo, mais 6 vezes para retirar o amargor. Depois fiz o arroz e na última água coloquei as jurubebinhas amargosas. Se gostar mais amargo apenas coloque as jurubebas na última água do arroz e elas ficarão cozidas. Além de um sabor próprio ela fica bonitinha no arroz.


Esse foi o céu no dia do passeio. 

dia bão!

terça-feira, 6 de agosto de 2013

Um Sabor Ítalo-brasileiro: Risoto de Cansanção

É verdade. Nossos amigos italianos amam mesmo as massas e os risotos. São rigorosos no preparo e barulhentos ao chamar para à mesa quando o prato está pronto.
Há quem diga que o risoto de cansanção é um prato típico do sul da Itália. O cansanção, chamado também de urtiga (já falei antes aqui) é conhecido por todo o Brasil e é bem queridinho das boas cozinheiras do interior do país. Dessa vez ganhei as folhinhas de dois tipos de cansanção: o que queima e o que não queima e fiz um delicioso risoto que foi aprovado por todos. O cansanção tem uma espécie de liga que se solta ao ser cozido e que aumenta a cremosidade do risoto. É realmente muito bom.

Usei o arroz arbório que é composto por dois amidos diferentes, a amilopectina, um amido que incha e se dissolve um pouco durante o cozimento deixando o risoto cremoso e a amilase, que é um amido central, mais firme e que não se desmancha durante o cozimento, deixando o arroz firme. Arbório é o nome de uma cidade italiana, na região do Piemonte, produtora deste grão.


Para o risoto de cansanção fiz o caldo de legumes. A dica que sempre dou é nunca usar caldos prontos, seja ele qual for. Primeiro porque são feitos com ingredientes que não fazem bem à saúde (o maldito ciclamato monossódico=realçador de sabor. Uma bomba no organismo)  e depois porque o sabor é totalmente artificial. 

O caldo é simples:
1 cenoura média
1 cebola
3 pedaços de talo de alho poró
2 a 3 dentes de alho grande
1 Bouquet Garni -  salsinha, louro, tomilho
2 litros de água aproximadamente

Pique os vegetais, cubra de água fria e deixe levantar fervura. Em seguida, abaixe o fogo e deixe cozinhar por 50 minutos. Retire a espuma escura, se houver. O “brodo” (como os italianos chamam o caldo) vai diminuir bastante a quantidade. Passe tudo por uma peneira. Eu não acrescento sal porque prefiro fazer isso no preparo do prato. Reserve parte do caldo para fazer o risoto e congele o resto para usar em outro prato.

Para o risoto de cansanção:
receita para 4 pessoas

Ingredientes
2 xícaras de arroz arbório
80 gramas de cansanção
10 colheres (sopa) de água (para o cansanção)
2 colheres (sopa) de azeite
1 colher (sopa) de manteiga
2 dentes de alho picado pequeno
1/2 xícara de vinho branco seco
4 xícaras de caldo de legumes
1 colher (sopa) de parmesão. Eu usei o queijo curado da serra do salitre (veja aqui) e deu muito certo.
Sal e pimenta-do-reino a gosto

Mantenha aquecido em fogo baixo o caldo de legumes.
Lave e pique o cansanção. Use luvas para não machucar a mão.
Aqueça em uma panela 2 colheres (sopa) de azeite e refogue o cansanção. Acrescente 5 colheres (sopa) de água e continue refogando. Ele irá murchar e começar a soltar uma baba (muito menos que o quiabo) que ´quase desaparece no final do cozimento. Essa liga dará uma consistência deliciosa ao risoto. Acrescente o resto da água, uma pitada de sal e deixe secar um pouco. O cansanção deverá estar totalmente macio. Reserve.

Cansanção picado com luvas de borracha
Aqueça uma panela em fogo médio com 1 colher de azeite e acrescente o alho até ficar dourado. Adicione o arroz e deixe refogar um pouco. Aumente o fogo e despeje o vinho branco e mexa até evaporar parte do líquido. Adicione, pouco a pouco, o caldo de legumes mexendo sempre. É neste momento que os amidos vão entrar em ação. Mexer o arroz é fundamental. Tempere com sal e pimenta. Prove e quando faltar uma concha de caldo para finalizar, adicione o cansanção refogado e mexa. Antes de secar totalmente o caldo, apague o fogo e acrescente 1 colher (sopa) de manteiga e o queijo ralado e mexa. Tampe a panela e deixe descansar por 2 minutos. O ponto do arroz não é totalmente cozido. É uma textura firme e cremosa. 

 
cozinhando o risoto já com cansanção

Pronto para comer!!!

Comi o risoto como prato único porque realmente não acho que falta nada, mas imagino que se combinar com uma carne de porco deva ficar muito bom também.

Faça porque não tem mistério nenhum!!
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