Dona Maria é assim:
inteligente, perspicaz, de memória impressionante, corajosa (afinal teve 10
filhos), habilidosa cozinheira, gentil e dona de uma imensa paciência. Contou
que quando teve que cuidar dos irmãos mais novos, aos 13 anos e no interior de
Minas, fazia pães e biscoitos de todos os tipos. Para os biscoitos, bolos, pão
de queijo, brevidades e pudins que eram feitos no forno à lenha, plantava a
mandioca e fazia todo o processo até retirar o polvilho. Para fazer o sabão,
começava por catar o coquinho no pé da palmeira e molhe, escorre, quebra,
corta, prensa, esquenta, esfria e finalmente o óleo para fazer o sabão, que
precisava de mais um dia de trabalho para ficar pronto. Tudo era assim: muito
trabalhoso. Depois de casada, cozinhava para mais de 30 trabalhadores da
fazenda Retiro das Três Barras, além de
alimentar a renca de filhos e dar muito amor.
E pela prática Dona Maria se
tornou uma excelente cozinheira, daquelas que sabe, só de olhar, se a receita vai
dar certo ou não. Como uma boa e tradicional mineira, cozinha tudo lentamente,
sem encurtar caminhos e sem ansiedade. Jamais usa temperos prontos (com o
abominável glutamato monossódico) e tem preferência por fazer pratos com pouco
óleo, pouca fritura e sem cremes e molhos.
Hoje com 80 anos domina as
texturas, proporções e medidas, o que lhe permite ser criativa. Não que dê tudo
certo na sua cozinha, mas ela não desiste e não se intimida com um biscoito que
ficou mole ou com o bolo que não ficou fofo. Ceci, uma das filhas de Dona
Maria, resolveu seguir a mãe nos conhecimentos quitandeiros e se tornou uma
produtora de biscoitos artesanais (aqueles produzidos com insumos naturais e
sem adição de aditivos químicos) que são deliciosos, finos e bonitos. Tem uma
legião de apreciadores fiéis do seu biscoito que fazem encomendas antecipadas
até para dar de presente. Tudo ensinado por Dona Maria.
Essa parola toda é para
mostrar o frango com quiabo feito por Dona Maria em um almoço de domingo comum em
que estavam presentes quinze pessoas, com idades entre três e oitenta e sete
anos. Delicioso como sempre, consegue fazer com que este prato tenha o mesmo
sabor todas as vezes.
Ela faz assim: limpa e corta o
frango, retirando toda pele. Passa vinagre e lava. Ela não usa limão porque
acha que impede o tempero de entranhar na carne. Soca alho, sal e ervinhas (as
que tiver à mão) e tempera o frango no dia anterior. No dia seguinte, coloca no
forno os pedaços (frito é outro processo) deixa até corar. O frango desidrata e
perde toda gordura, ficando “melhor para o colesterol”, segundo ela. Com isso, a
carne perde aquele cheiro e gosto desagradáveis, próprios de frango. Em
seguida, leva para panela uma pequena quantidade de óleo, deixa esquentar,
coloca cebola, mais um pouco de sal com alho, urucum e folha de louro e
acrescenta o frango. Refoga tudo um pouco e cobre com água quente para que a carne reidrate. Quiabos colhidos no
quintal, lavados, secos e picados pequeno, refoga-os em pouco óleo e sal com
alho, em uma panela separada até perder a baba. Não mexe muito, nem usa vinagre
(que ajuda a perder aquela viscosidade). Quando o frango está cozido, corrije o
sal e acrescenta o quiabo já pronto. Acrescenta mais água quente, quando
necessário e deixa ferver um pouco com a panela destampada para não amarelar o
quiabo.
Serve com angu e couve da
horta.
A sobremesa é um capítulo à parte. Esse aí é um
pudim de leite que ficou divino.Posto a receita depois.
Dona Maria no quintal da casa entre ora-pro-nobis, manjericões e capim cidreira |
Por favor, poste a receita do pudim!
ResponderExcluirAdorei o relato de um preparo tradicional de frango com quiabo!!
Bruna, já fiz algumas vezes, mas na próxima vou pesar tudo direito e posto aqui. Abç
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